Crianças invisíveis numa sociedade doente, onde a lei não alcança.

Cada vez que tomamos conhecimento de uma atrocidade praticada contra uma criança, nos pegamos refletindo sobre a real capacidade de nossas leis e instituições em oferecer e garantir, a tão utópica, proteção integral com prioridade absoluta, prevista na Constituição Federal, a elas.

Milhares de crianças sofrem as mais cruéis violências, em inúmeras formas, diuturnamente, mas estas vítimas estão invisíveis aos nossos olhos. A tal ponto, de que quando temos conhecimento de um caso, cujo desfecho foi trágico e com tamanha crueldade por parte dos agressores, somos tomados por um sentimento de desespero e ao mesmo tempo um remorso inconsciente, até mesmo, por não termos feito nada, ou por não termos visto o perigo com antecedência. E surgem as famosas perguntas: “Como ninguém fez nada antes? Como ninguém percebeu nada?” E a partir desse momento, passamos a buscar culpados, ao invés de observarmos que todos nós, como grupo social, temos nossa parcela de culpa.

Também, nos leva a refletir sobre a eficiência dos órgãos de proteção, que deveriam atuar na prevenção das fatalidades devastadoras nas vidas de inocentes e indefesos, que estão sob sua tutela legal. Se a criança tem prioridade absoluta aos olhos da lei e pelas mãos do Estado, e este mesmo Estado, falha no cumprimento de seu dever, é mais um claro sinal, de que em algum momento a sociedade falhou gravemente com estas crianças. Seja por negligência ou omissão, recai sobre nós, uma parcela de responsabilidade por cada criança que tem seu direito, sua dignidade e até mesmo sua vida, ceifados.

Nosso de sistema de justiça punitivo, falha sucessivamente, por só agir após a tragédia, enquanto que para a real proteção, necessitamos de um sistema preventivo, cuja segurança da criança esteja em primeiro lugar, e cuja punição rígida, seja capaz de intimidar e coibir, a prática de todas as espécies de violências, cometidas contra aqueles que necessitam de proteção absoluta.

Além de precisarmos, urgentemente, de uma mudança em nossa consciência e comportamento, adotando uma postura de cobrança para com as instituições encarregadas de zelar pela infância, uma posição de não permitir, nunca, que as crianças continuem em situações de risco, invisíveis, e de não aceitar, que a negligência daqueles cuja função é zelar pelos vulneráveis, se tornem comuns e naturais em nosso cotidiano.

A violência em todas as suas formas, praticadas contra crianças e adolescentes, destrói todo o seu desenvolvimento, trazendo sequelas irreversíveis em suas vidas, e quando somos passivos diante disso, destruímos também qualquer, mísera chance, de socorro a eles.

Já tivemos Isabelas, Aracelis, Ana Lidias, Joãos, Pedros, Bernardos, Matheus, e agora Rhuan… Nomes que entraram para as estatísticas do rol de vítimas, cuja lei e proteção Estado não alcançaram. Crianças que em suas histórias, carregam a marca da crueldade humana, no ato final.

Quantos mais? E até quando?

Texto de Sallime Chehade, Pedagoga, Jornalista, Graduanda em Direito e Pós-graduanda em Psicologia infantil.

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