Nos dias 5, 6 e 7 de setembro realizou-se o XXX Campeonato Brasileiro de Kung Fu, na cidade de Bombinhas, Santa Catarina.
Nos trinta anos de história desse Campeonato, foi a primeira vez que Santa Catarina sediou o evento. Embora não seja um esporte muito praticado em nossa região, a delegação de Santa Catarina possui número considerável de atletas que competem em diversas modalidades, entre elas Wushu Adaptado, Wushu Interno, Wushu Moderno e Livre, Wushu tradicional, Wushu Sanda e Wushu Shuaijiao.
O evento envolveu mais de 500 atletas de 19 estados brasileiros, sendo considerado o maior dessa modalidade esportiva já realizado no Brasil. Para praticar esse esporte não existe limite de idade, sendo que no Campeonato Brasileiro deste ano os participantes tinham entre 6 e 91 anos de idade.
Wushu, conforme a Federação Internacional de Wushu (IWUF – International Wushu Federation), “define a arte marcial de origem chinesa” e “abrange uma diversificada gama de métodos marciais”. No Ocidente, designa “métodos de combate ou de taolu (forma)”, ou seja, a primeira referindo-se a uma forma de combate com técnicas de ataque e defesa envolvendo a luta corpo a corpo. Já o taolu condiz ao “treinamento de sequências de golpes praticados de maneira contínua para desenvolvimento das habilidades necessárias à sua aplicação. Estes envolvem técnicas de mãos livres e armas, como bastão, espada, lança e outras tantas armas chinesas tradicionais”.
Essa arte milenar, segundo a IWUF, tem sua origem na Era do Bronze, quando os homens primitivos começaram a desenvolver algumas técnicas para se defender de inimigos ou de animais selvagens. Na “Dinastia Shang (aprox.. 1556-1406 aC até 481-221 aC), as técnicas evoluíram para combates com uso de armas e o wushu também começou a ser praticado por pessoas comuns que buscavam meios de autodefesa, melhoria da saúde e como forma de entretenimento. Interessante lembrar a proximidade entre artes literárias e marciais como princípio da antiga filosofia chinesa.
Com o passar do tempo essa arte se amplia:
Avançando rapidamente para 495 dC quando o Templo Shaolin, reconhecido internacionalmente como berço de certos estilos de wushu, foi erguido na Montanha Song Shan para o monge Batuo, cujos alunos gostavam de praticar exercícios de wushu em seu tempo livre. Gerações posteriores de monges combinaram o chan (Zen) e o quan (artes marciais) no que hoje é conhecido como Shaolin Quan (Shaolin Wushu) (IWUF, 2019).
Com a diminuição do uso de armas frias e ampliação de armas de fogo, desde o final da Dinastia Qing (1644-1911 dC), o wushu se popularizou para além dos campos de batalha e seus praticantes aliaram as técnicas das artes marciais com ideias teóricas e filosóficas populares entre o povo”.
No século XX, essa arte marcial passou a fazer parte de jogos tradicionais chineses e, no ano de 1936, uma delegação chinesa de wushu realizou uma demonstração nos XI Jogos Olímpicos realizados em Berlim. Hoje, embora não seja um dos esportes integrantes das Olimpíadas, o Kung Fu Wushu é reconhecido como esporte pelo Comitê Olímpico e é uma das modalidades de diferentes competições realizadas em diferentes partes do mundo.
O interessante dessa arte, que ao mesmo tempo é uma filosofia e um esporte, são os princípios que orientam os atletas e praticantes em geral do Wushu, como a fidelidade, a amizade, o respeito, a responsabilidade e a humildade, bem como as virtudes a serem desenvolvidas por quem se torna adepto ou praticante, como a deferência, a reverência, a determinação, a diligência, a perseverança, a excelência, a solidariedade e a gratidão, conforme relacionado pela Confederação Brasileira de Kung Fu Wushu.
Muitos desses princípios e virtudes já estão sendo desenvolvidos pelos atletas catarinenses.
Conversamos com três deles a respeito de sua participação no XXX Campeonato Brasileiro de Kung Fu, um esporte praticado em família, que contribui para o estreitamento de laços entre pai e filhas.
Angelo Augusto Frozza, 47 anos, começou a praticar Kung Fu em 2017 como atividade física para melhorar a qualidade de vida. Quando fez a inscrição, também inscreveu as duas filhas, Beatriz e Carolina. Ao saber disso, Carolina ficou chateada, porque não foi perguntada se queria, mas, depois que começou, não quis mais parar. Beatriz precisava fazer exercícios por conta de uma escoliose. Não era bem o que queria, mas também acabou gostando.
Em 2018, fizeram inscrição para o Campeonato Catarinense, saindo de lá com boas colocações. Angelo, vice-campeão, Beatriz, vice-campeã numa modalidade, campeã em outra. Carolina, também campeã.
Neste ano, participaram do Catarinense novamente e saíram campeões outra vez.
Com o treinamento e o incentivo do Professor Mestre Ramadan Pereira Espíndola, atleta da Seleção Brasileira de Kung Fu e campeão sul-americano por diversas vezes, pai e filhas participaram do Campeonato Brasileiro. Angelo competiu na categoria Master, nas modalidades Mãos do Norte, Armas Longas e Combinada – Duiliam. Beatriz, na categoria infantil, nas modalidades, Mãos livres, armas médias e armas longas e Carolina, na categoria mirim, na modalidade Wushu tradicional Mãos livres. Os três saíra com medalhas, Beatriz, campeã na modalidade armas médias, facão, Carolina campeã na modalidade em que competiu e Ângelo vice campeão na modalidade Combinada – Diuliam com o Mestre e também atleta Ramadan.
Para os três, o esporte é o momento pai e filhas, porque treinam juntos e isso fortalece a união entre eles.
O que eles têm a dizer é que o Kung Fu é importante por vários motivos: fortalece o condicionamento físico, trabalha a questão da responsabilidade, da dedicação, do respeito, da disciplina, da paciência e da concentração, além de melhorar as condições de saúde.
Carolina diz que gostaria de ter mais meninas participando, porque no início não gostava muito, mas depois aprendeu a gostar e quer continuar. Como tem poucas praticantes de sua idade nesse esporte, ela manda um recado:
Beatriz também recomenda esse esporte:
Para o Angelo,
No XXX Campeonato Brasileiro de Kung Fu, receberam as seguintes premiações:
Carolina, medalha de ouro na categoria mirim, Wushu Tradicional mãos livres do norte.
Beatriz, medalha de ouro na categoria infantil, armas médias, Wushu Tradicional.
Angelo, medalha de prata na categoria master, Wushu Duiliam
Sites para referência
https://www.cbkw.org.br/wushu-2/
https://lutasartesmarciais.com/artigos/hist-ria-kung-fu-wushu
http://portaldekungfu.com/kung-fu/a-historia-do-kung-fu/