“O Morro dos Ventos Uivantes” – Por Henrique Córdova

“Mas a traição e a violência são lanças de duas pontas. Ferem os que a elas recorrem mais gravemente do que a seus inimigos.”

Esta foi a única frase assinalada por meu pai, José Córdova, que encontrei no livro de Emily Brontë, a quem Harold Bloom, objetivo e sintético crítico literário, coloca entre os 100 gênios da literatura universal.

Inutilmente procurei outras em uma obra tão intensa e tão rica, a ponto de o crítico citado conhece-la quase decor, segundo ele mesmo declara. De certo modo, é a frase central do livro, pois nele todos os personagens que feriram a outrem, terminaram precocemente vitimados. Até mesmo Heathcliff que, com Catarina Earnshaw, viveu um romance irrealizado e parasita. Sua paixão seca e consome seu rude coração e o transforma na lança que fere, sem escrúpulos e arrependimentos, mas o derrota definitivamente.
Todos os personagens de Emily vivem pouco. Menos, quem sabe, o que dela viveu .

Sabia ela que viveria pouco?
Se sabia, seus eternos personagens seriam também breves para que dela, através deles, nos lembremos para sempre com uma pesada sensação de perda.
Aliás, será a boa lembrança algo diferente?

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