Fantasia – Por Henrique Córdova

Não sei por que,
Eu, que nunca vi álamos na infância,
Vejo-me criança entre eles, numa estrada de sonhos,
Sem saber para onde o destino me leva tão solitário.

Olho para o alto e vislumbro, no movimento das árvores,
O explícito desejo de ascenderem, verdes, ao céu azulado,
Quando, aos entardeceres, folhas leves de ouro velho caem
E a viragem rala não as protege das lentas passadas infantis.

Ao anoitecer, no inverno do dia, as magras e nuas espécies,
Já desfolhadas, são fantasmas que filtram o hálito dos faunos
Ávidos de ninfas invisíveis, sob os longos mantos diáfanos,
Que só a imaginação delicada do artista pode desenhar…

A aurora desperta pelos sons naturais e ruídos mecânicos,
Espalha o calor, que aquece e enxuga gotas de suor noturno,
E exibe, claros, os álamos tristes, que desistiram de crescer,
Esquecidos dos céus azulados e voltados para a terra seca.

No fim da alameda, começa o lago donde sobe o vapor
Transformado em orvalho e pendente da grama espigada
A refletir, como constelação efêmera, um luzeiro irisado,
Sob a brevidade cruel das árvores e dos olhares distantes.

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