Desmistificação – Por Henrique Córdova

O Beija-Flor,
Avezinha linda,
Multicolorida e veloz,
Bico comprido e fino
Qual espada de algoz,
Voa sem ser vista,
Em busca da linda rosa viçosa;
A ela chega, imprevista,
Suga-lhe o néctar precioso
Sem pedir licença…

Em pleno voo, digere o banquete,
Expele o líquido dejeto
E busca outra flor.

A rosa ferida,
Abandonada,
Antes de completar seu projeto
De embelezar,
De perfumar,
Fenece sem socorro e perdão…

A linda avezinha multicolorida,
Com seus velozes voos,
Volta a nutrir-se,
Ao cravar sua espada pontiaguda,
Sem piedade e com vigor,
Em belo e perfumado coração
De flor, em cada flor.

A avezinha perigosa,
De pequenas e sedosas penas,
– Penas luzentes e coloridas –
De olhos desproporcionais,
É esgrimista fatal.

A rosa inocente –
Rosa,
Vermelha,
Lilás,
Branca
E de outras cores –
Abre suas pétalas e exala o seu perfume…
Mas,
Antes que as pétalas encantem…
E o perfume se dissipe,
No ar, com asas invisíveis zunindo,
Surge a esgrimista certeira,
Para a flor beijar,
Sugar seu néctar e …
Voar, sem cessar.

Para a linda avezinha de enganosas cores,
A flor é o necessário sustentáculo da vida…
Para a incomparável flor, a desnecessária avezinha,
Com seu beijo letal, é a portadora da morte…
E assim, ambos, cumprem seu natural, estranho e trágico fadário…

Separados encantam e, unidos, desencantam e intrigam:
Quando ele voa, beija e mata,
Ela encanta, perfuma e morre.

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