O galo e a casinha do tempo: A magia do serviço meteorológico do passado

Relembrar o passado em tempos difíceis, como o que estamos vivendo, nos faz bem estimular a nossa mente a lembrar de momentos marcantes e especiais. E como as temperaturas prometem cair no Sul do Brasil, todo mundo de olho no tempo para aguardar a tão desejada neve! Então, vamos falar de 2 bibelôs que existiam em todas as casas quando ainda não existia O climaterra dentro tantos outros . O Galinho do Tempo, que é de origem portuguesa, e também da famosa, casinha do tempo! Embora ainda exista por aí, são do passado, já um tanto quanto distante, era comum ver um perto de uma janela ou de uma porta de entrada das moradias. E era hábito todo mundo olhar bem para ele antes de sair de casa ou sequer abrir a janela.

O famoso “Galo do Tempo” (ou “Galo da Chuva”, como também era tratado). Hoje, para usar uma linguagem mais apropriada a estes novos tempos, podemos chamá-lo de “Galo Meteorológico”.

Os bonequinho que era muito comum antigamente nas casas.

Difícil quem mesmo sendo das gerações mais novas, não ter visto um galinho do tempo. É um galinho de plástico, coberto por uma camada de um material aveludado, que muda de cor dependendo da umidade. Se está seco, ele fica azulado e se esta úmido, ele fica avermelhado.  E dias chuvosos são dias bem úmidos, portanto a “escala” presente na base desse bibelô normalmente indica:

Vermelho: Tempo chuvoso, úmido

Azul: Tempo bom, seco.

O galinho do tempo não faz a previsão do tempo, como muita gente pensa equivocadamente. Ele apenas indica as condições do tempo presente, ou seja, as condições meteorológicas daquele instante. E como ele faz isso?

Essa  camada aveludada que recobre o plástico possui uma solução aquosa de Cloreto de Cobalto II em sua superfície. Essa substância tem uma característica interessante: ela muda de cor quando entra em contato com a água. Em um ambiente completamente seco, essa substância fica com coloração azul. No entanto, quando essa substância entra em contato com a água, fica vermelho-rosada. Essa mudança de cor não é irreversível: se uma porção de Cloreto de Cobalto II estiver úmida e depois for seca (natural ou artificialmente), ela deixa de ficar avermelhada e passa a ficar azul.

Percebam portanto que essa substância é ideal para indicar a presença de umidade. Alguns equipamentos eletrônicos usam Sílica Gel para absorver a umidade presente na caixa do equipamento e evitar danos aos componentes eletrônicos. Vocês já devem ter visto dessa sílica gel em saquinho (até tá escrito “não coma” nesses saquinhos rs). Mas existe sílica gel vendida a granel. E por circunstâncias relacionadas ao meu trabalho, já tive que comprar dessa sílica gel a granel. Essa que vende a granel é embebida com Cloreto de Cobalto II para que quem está manuseando possa saber se a sílica gel está saturada ou não de umidade. Os ‘grãos’ de sílica gel ficam azulados  se ainda estão secos e avermelhados se já estão úmidos. Daí é possível reaproveitar essa sílica gel a granel: basta aquecê-la no forno ou em uma panela. Quando ela é aquecida, a cor modifica-se e fica bem claro para nós que está seca e pronta para ser colocada novamente junto ao equipamento eletrônico que ajuda a conservar.

 Cloreto de Cobalto II é um sal que estabelece o seguinte equilíbrio químico:

[CoCℓ4]2-(aq) + 6 H2O(ℓ)↔ [Co(H2O)6]2+(aq) + 4 Cℓ1-(aq)

O íon [CoCl4]2-(aq)  apresenta cor azul, sendo que o seu número de coordenação (quantidade de ânions que cercam o cátion no arranjo cristalino) é 4. Já o íon [Co(H2O)6]2+ apresenta cor rosa e seu número de coordenação é igual a 6. Segundo o Princípio de Le Chatelier, esse equilíbrio pode ser deslocado para a direita, deixando o sal rosa ou para a esquerda, ficando com a cor azul.

Além da variação da umidade fazer com que a coloração dessa substância se altere, a variação de temperatura também é um importante fator.  De acordo com a química Jennifer Fogaça, que escreveu para o Brasil Escola:

Em dias quentes (temperatura alta) o equilíbrio da reação se desloca no sentido da reação que absorve calor (endotérmica), que, nesse caso, é a inversa. O galo fica, então, azul. Já em dias frios, a temperatura baixa faz com que o equilíbrio seja deslocado no sentido da reação que libera calor (exotérmica), que, no exemplo considerado aqui é a direta. Nesse caso, o galinho do tempo fica rosa..

Sendo assim, o galinho do tempo não prevê o tempo. Ele apenas registra as condições atuais e para isso utiliza um sal (Cloreto de Cobalto II) cuja coloração modifica-se com as variações de umidade e de temperatura.

Ele, imponente, todo feito num material felpudo e áspero, estava colado em cima de uma base de madeira onde havia uma pequena legenda que indicava o que as diferentes cores podiam significar.

A casinha do tempo tem um mecanismo que funciona com a variação da pressão atmosférica. Quando a pressão cai, há possibilidade de chuva e o bonequinho sai pela porta onde diz “Chuva”. Quando a pressão aumenta, significa que teremos possibilidade de tempo bom e quem sai é a bonequinha pela portinha onde diz “Sol.

Lembrando que não é um instrumento para uso científico, pois não foi calibrado para este fim e também não possui uma escala graduada em hPa (unidade de pressão atmosférica), por exemplo. No entanto é uma ótima opção para presentar alguém que ama meteorologia.

Alguns modelos, como o da 9foto acima, também vêm com um termômetro de mercúrio, usado para medir a temperatura. Uma gracinha!

Ele, imponente, todo feito num material felpudo e áspero, estava colado em cima de uma base de madeira onde havia uma pequena legenda que indicava o que as diferentes cores podiam significar.

Se o Galo estivesse Azul significava que o dia seria de sol e calor. Mas ia mudando conforme o tempo lá fora mudasse também. Se o céu fosse ficando nublado ou com muitas nuvens, ele ia ficando noutro tom de Azul, que ia virando um tipo de Roxo até chegar a um tipo de Rosa, que significaria frio e chuva lá fora.

Ele não falhava nunca! A gente, ainda adolescente, não entendia a magia do galinho amigo, que tantas vezes salvava a gente de tomar “banho de chuva” nas ruas de terra, ainda sem asfalto.

Importante frisar que naquela época não havia serviço de meteorologia como hoje existe o Simepar e outros institutos dotados da mais alta tecnologia para a previsão do clima e do tempo.

A MAGIA DO “GALO DO TEMPO”

Conforme o tempo foi passando, a gente foi estudando e se informando, até conhecer o “truque” do famoso galinho.

Ele é fruto de um equilíbrio químico, a partir de uma solução aquosa de cloreto de cobalto II em sua superfície. Em dias quentes (temperatura alta), o equilíbrio da reação se desloca no sentido da reação que absorve calor (endotérmica), nesse caso, a inversa. O galo fica, então, azul, confirmando que o tempo será de calor. Nos dias frios, a temperatura baixa faz com que o equilíbrio seja deslocado no sentido da reação que libera calor (exotérmica). Nesse caso, o galinho fica rosa, confirmando que será um dia frio. Porém, em locais com ar-condicionado, a cor do galo acompanha a temperatura do ambiente, mesmo que lá fora o oposto se apresente.

Mais um lúdico artifício do que uma confiável fonte de previsões meteorológicas, o galinho encantava principalmente as crianças. Na casa dos avôs e avós, ainda é possível encontrá-lo, dentro de alguma cristaleira, agora bem distante da condição de item obrigatório nos lares de antigamente.

E ele é cuidado com carinho, pois faz parte da história da vida de muitos de nós. Podia parecer um brinquedo, mas sua utilidade foi importante no dia a dia de uma legião de pessoas).

Fonte pesquisa Ítalo Fábio Casciola.

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