17 anos do Furacão Catarina – Em 27 de Março de 2004 ventos acima de 150km/h assombraram SC e RS

Em 2004 o Sul do Brasil experimentou uma sensação jamais sentida antes, pelo menos nos tempos modernos, o medo e o pavor tomou conta de Catarinenses e Gaúchos quando um furacão deixou um rastro de fúria e destruição jamais vista antes em Santa Catarina.

Furacão Catarina ainda no oceano em 26 de março de 2004 (ele atingiu a costa catarinense e gaúcha em 27 de março). Este foi o primeiro furacão documentado no sudoeste do Oceano Atlântico (Pezza et al. 2009). Atingiu a costa do Brasil dois dias depois, com ventos estimados em mais de 150 quilômetros por hora. Até então, era geralmente aceito que os furacões não podiam se formar sobre o Atlântico Sul devido às temperaturas da superfície do mar insuficientemente quentes e outros fatores (Gray, 1968). Este evento extremo ilustra como a mudança climática global pode estar aumentando o risco de desastres sem precedentes. (Fonte: NOAA 2005).

O primeiro furacão registrado no atlântico sul e único a tocar o solo brasileiro com ventos sustentados entre 130km/h a 160km/h e rajadas acima dos 180km/h, com ondas acima de 5 metros e um prejuízo de mais de 1 bilhão para o Estado de Santa Catarina … Milhares de casas foram destruídas e centenas de pessoas ficaram desabrigadas.

O furacão Catarina deixou mais de 27,5 mil desalojados, quase 36 mil casas danificadas, 518 feridos e 11 mortos. Os prejuízos totalizaram aproximadamente R$ 1 bilhão e 14 municípios decretaram estado de calamidade pública.

Capa dos Jornais Diário Catarinense e Correio do Povo publicada em 29 de Março (após o ocorrido)

Essa data ficou marcada na história de Santa Catarina

”Talvez nenhum dia tenha sido tão tenso, nervoso e dramático para os meteorologistas do Sul do Brasil como o 27 de março de 2004, exatamente há 17 anos no dia de hoje. Foi quando o já formado furacão Catarina atingiu, o olho do furacão, o litoral entre Araranguá/SC e Torres/RS. A tempestade a cada hora era mais intensa no mar e inexistiam dados confiáveis sobre velocidade de vento pela ausência de bóias. Havia um monstro no oceano, porém não se sabia qual era a sua real força. Os únicos dados de vento que vinham eram estimativas do satélite Quickscat, que estão longe de oferecer uma ideia real. Melhor indicativo se tinha pela estimativa da escala Dvorak de ciclones tropicais que conferia nas últimas horas que precederam ao landfall (quando toca a terra o olho) um número 4.5, equivalente a vento sustentado em um minuto de 77 nós ou 142 km/h. Com base nas imagens de satélite e na escala Dvorak mantivemos o alerta de furacão no dia 27 e elevamos o tom da gravidade à medida que era cada vez mais evidente que estávamos a poucas horas de situação sem precedentes.” Declarou Luiz Fernando da Metsul Meteorologia.

Já o Engenheiro Agrônomo Ronaldo Coutinho do Climaterra em São Joaquim lembrou que a formação furacão foi detectado no dia 22 de Março de 2004 através de uma tríplice parceria entre o Climaterra, Ciram e Metsul (os únicos que desde o início tratavam como furacão, apoiados pelo centro de furacões dos USA).

Ronaldo Coutinho no Climaterra

-”Todos nós [Metsul, Ciram e Climaterra], através de imagens de satélite, sabíamos que algo grave estava para acontecer já na segunda-feira (e mantivemos as informações internas até o momento em que tivemos a exata certeza de que aquilo era realmente um furacão, fomos trocando informações e relatando o caso à Defesa Civil, já na esperança de salvar vidas.

O Alexandre [da Metsul], sabia falar bem o inglês e entrou em contato com o NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) no Estados Unidos e eles utilizaram os satélites deles para identificar aquilo que seria o primeiro Furacão registrado no Brasil, eles utilizaram o modelo deles para prever as possíveis rotas do furacão.

Na quinta-feira [25] eu fui para as rádios fazer o alerta, pois tínhamos fazer algo para salvar vidas. Lembro de ter ligado também para a Angêla Amin [então Prefeita de Florianópolis] e ela estava em Bogotá, após as informações de que a ilha poderia ser fortemente atingida a prefeita retornou já no mesmo dia.

As emissoras de rádios no Sul de SC foram cruciais para salvar vidas, em especial na hora que o olho do furacão tocou o solo de SC! Neste momento os avisos foram constantes para ninguém ir para rua, pois, o pior estaria por vir! Não cito nomes, pois todas as emissoras foram importantíssimas e a sociedade tem uma enorme gratidão com o “rádio”/SC, diferente das redes nacionais e uma grande rede de rádio de Porto Alegre (que brincou com uma previsão do furacão feita na CBN/Florianópolis, reprisando e fazendo chacota! na manhã de sábado, depois todos sabemos o que aconteceu…!), levaram a sério nossos avisos e foram a luta por quase 30 horas seguidas, salvando vidas!

Casas destelhadas pelo Furacão Catarina

As pessoas atribuem à mim o fato de ter descoberto o Furacão Catarina, mas não foi bem assim, a detecção foi um trabalho entre o Climaterra, Metsul e Ciram. Eu apenas fui o primeiro a avisar a população de Santa Catarina para se protegerem. Na minha opinião a Meteorologista do INPE/Nuri ou o Clovis/Ciram foram os que identificaram.

Porém o trabalho poderia ter sido melhor se tivéssemos o apoio da televisão (redes nacionais), o prefeito de Içara, na época foi avisado por amigos que moravam no Estados Unidos e que assistiam um canal americano ao qual mostrava o furacão se aproximando da costa de Santa Catarina. Enquanto os próprios americanos se preocupam a TV brasileira e algumas rádios/RS faziam chacota.

A TV mostrou apenas uns coqueiros balançando e diziam que aquilo era um forte vento. A Televisão deixou de dar a informação e ajudar a população, pois na época fazia a previsão do tempo para RBS/Criciúma e na sexta feira tinha um aúdio completo com a previsão do furacão, não passaram por receio. Foi o maior furo em termos de previsão, que deixaram passar, da TV Brasileira!

A Meteorologia Brasileira também descartava o furacão, nós três [Metsul, Ciram e Climaterra] ignoramos solenemente a meteorologia nacional, qualquer pessoa leiga poderia ver as imagens do satélite e deduzir que aquilo era um furacão.

Ondas gigantescas em alto mar

99,9% das pessoas nunca viram isto, achavam que era apenas uma forte ventania. Elas não tinham noção do que era um furacão com + de 400km de diâmetro ele iria atingir fortemente o litoral sul de Santa Catarina e norte do RS com ventos  acima dos 140 km/h com rajadas de 200km/h à fio. Inicialmente era a rota entre Florianópolis e Brusque e acabou mudando na direção do litoral sul de Santa Catarina provocando um prejuízo de cerca de 1 Bilhão ao Estado.

Os ventos com força de Furacão atingiu Santa Catarina às 10/11 horas da noite do dia 27 de Março de 2004. Assim como todo o furacão ele teve três estágios: Entrada, Olho e dissipação. O Catarina entrou como categoria 2 (pelos danos ocasionados) e influenciou no tempo em Santa Catarina provocando trovoadas até Concórdia, lá no Oeste. O Olho do Catarina tinha +- 60km de diâmetro, para se ter uma ideia, Florianópolis inteiro caberia dentro do olho.

A intensidade do furacão Catarina nas áreas atingidas

A Serra se transformou em um escudo e fez com que o furacão perdesse rapidamente a sua intensidade e estrutura sobre o estado. Por fim o Catarina perdeu sustentação e se dissipou na Região de São José dos Ausente.

Em São Joaquim ele acabou atingindo as localidades de Boava até São José dos Ausentes onde finalmente cessou.”

Foi um dos maiores desafios na história da meteorologia… salvar vidas enquanto a televisão ironizava… Finalizou Ronaldo Coutinho do Prado

Passado 17 anos o que se fez….nada!


Histórico

(Com informações de Appolo 11 furacões e tempestades)

Ciclone extratropical Catarina deve atingir o sul do Brasil com força de furacão

27-mar-2004 – 18h00 – A tempestade extratropical 1-T-Alfa, agora batizada de Catarina por cientistas catarinenses, encontra-se neste momento a 240 km do litoral de Torres, no estado de Santa Catarina e deve atingir a costa nas próximas horas.

Segundo o Centro Nacional de Furacões em Miami, NHC , a tempestade é considerada um furacão de categoria 1 na escala Saffir-Simpson, que mede a velocidade dos ventos dos furacões e vai de 1 a 5 (mas que posteriormente foi modificada depois que intensidade dos ventos aumentaram, assim como a temperatura de seu núcleo foi modificada)

Às 17h29 a tempestade produzia ventos sustentados de 150 km/h com rajadas atingindo até 178 km/h. A pressão barométrica no olho da tormenta foi estimada pelo NHC em 980 milibares.


Classificação de Catarina divide cientistas
Classificar Catarina de furacão ou tempestade extratropical pode ser praticamente impossível. “Estamos ainda debatendo se é ou não um furacão, mas de acordo com nossas estimativas, com certeza é”, disse Wally Barnes, meteorologista do Instituto Nacional de Furacões dos Estados Unidos, com sede em Miami.


Formação é inédita
O aparente o furacão se formou a cerca de 442 km da costa sul do Brasil, surpreendendo meteorologistas – que nunca viram a ocorrência de tal fenômeno na região. Imagens de satélite mostram uma grande espiral, aproximadamente do tamanho do Uruguai perto do litoral de Santa Catarina.

“A característica, pela foto de satélite, é de um furacão porque tem um olho bem definido, a circulação é circular e está totalmente desprendido da frente fria”, disse a meteorologista Odete Marlene Chiesa, do Instituto Nacional de Meteorologia, em Brasília.

“Se nós formos definir esse sistema de acordo com a temperatura do mar, ele não poderia estar se formando, principalmente porque já estamos do outono. Então, não seria um furacão. Dependendo do ponto de vista de análise, vamos classificar como furacão ou como ciclone extratropical, mas no momento não temos uma definição final”, completou.

Tanto Chiesa quanto Barnes confirmaram o espanto com a descoberta da tempestade que, caso seja declarada de fato um furacão, representará um fato inédito no Atlântico Sul desde que o monitoramento climático por satélite começou nos anos de 1960.

Temos uma divergência total de estimativas sobre o fenômeno porque é uma coisa que nunca vimos antes. É totalmente histórico nesse sentido. Os brasileiros nunca tiveram essa experiência”, disse Barnes.

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.